Vamos rever algumas afirmativas que são
feitas, que são tomadas como verdadeiras, mas que não passam de mitos e
que só servem para paralisar ações de combate ao bullying. O que
apresento aqui é um resumo de vários autores que, em sua maioria,
concordam sobre a existência destes mitos. Colocarei as referências no
final.
1. Bullying faz parte do crescimento, trata-se apenas de brincadeiras de crianças. Epa,
bullying não é brincadeira!!!! Machucar alguém, física ou
emocionalmente, nunca é engraçado e deve ser levado em conta seriamente.
2. O bullying físico é mais prejudicial do que o bullying verbal ou relacional. Nos
Estados Unidos, há um ditado bastante popular – “Sticks and stones can
break my bones, but words will never hurt me” (Paus e pedras podem
quebrar meus ossos, mas as palavras nunca vão me machucar). Pura
mentira! Os estudos e a experiência têm mostrado que o bullying verbal
e/ou relacional pode ser tão prejudicial ou até mais do que o bullying
físico. Os efeitos negativos destas formas mais encobertas
(incluindo o cyberbullying) podem durar a vida inteira.
3. É impossível parar com o bullying.
Bullying/vitimização ocorrem em praticamente todas as escolas, em graus
variados. Mas sabe-se que quando existe uma liderança adulta positiva,
um ambiente emocionalmente acolhedor e relações saudáveis, há menos
bullying. Não é impossível erradicar o bullying, apenas exige um
esforço inteligente e coordenado.
4. Bullying é uma ação agressiva isolada e individual.
O bullying NÃO é uma ação agressiva, isolada. De fato, os problemas
bullying/vitimização são influenciados pelos pares, famílias, escolas e
comunidades. Portanto, o bullying será melhor compreendido a partir de
uma perspectiva sócio-ecológica.
5. O bullying ocorre entre o “bully” e uma vítima. Raramente este é o caso. Precisamos reconhecer que o bullying é um problema dinâmico e de relações sociais.
6. Nós não temos bullying em nossa escola. Afirmativa
comum entre educadores, mas totalmente mentirosa ou alienada. Todas as
escolas têm bullying, em graus variados. Não reconhecer isto é jogar o
problema pra debaixo do tapete. Boas escolas são aquelas que
reconhecem o bullying e empreendem ações para combatê-lo e não aquelas
que afirmam que o problema não existe dentro dos seus muros.
7. Bullying e bullies são facilmente identificados.
Na verdade, professores e outros adultos podem não ver o bullying
acontecendo, principalmente porque os bullies são suficientemente
inteligentes para não deixarem os adultos presenciarem seu
comportamento.
8. Sofrer bullying fortalece para a vida. Ao
contrário, bullying tem efeitos sérios na autoestima de quem o sofre.
William Woors compara o bullying a um assalto real na vida de um adulto:
melhora a confiança e a autoestima ou tem um efeito devastador sobre a
pessoa?
9. Bullying é um rito de passagem. Sofrer
bullying ou ser o agente de bullying muitas vezes é visto como um teste
para ver como a pessoa vai encarar os rigores da vida. O raciocínio
errado aqui é se uma criança ou jovem puder enfrentar o bullying – como
agente ou alvo- estará pronto para dar o próximo passo em direção a uma
nova fase. O bullying não ajuda ninguém a passar mais facilmente para a
adolescência ou vida adulta, portanto atos de bullying não têm nada de
rito de passagem.
10. O bullying não tem efeitos a longo prazo.
O abuso entre pares na escola tem sido normalizado numa tal medida que
os adultos realmente acreditam que não afeta a longo prazo
a personalidade em desenvolvimento dos alunos. A pesquisa e a
experiência de profissionais de saúde desmentem totalmente isto: os
efeitos são duradouros e se estendem por toda a vida.
Fonte: Pedagogia ao pé da letra
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